O número de pessoas apoiadas pelas Equipas de Rua da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) aumentou 76% em 2024, refletindo a crescente crise social e habitacional no país. Em paralelo, o número médio de refeições diárias servidas cresceu 34%, evidenciando o agravamento das condições de vida de muitas pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade.
Este crescimento preocupante está diretamente ligado à escalada do custo de vida, à escassez de habitação acessível e à insuficiência de apoios sociais eficazes. A tendência afeta não apenas quem vive na rua, mas também pessoas em risco habitacional, incluindo famílias inteiras, jovens e trabalhadores cujos rendimentos não são suficientes para garantir uma habitação estável.
Apesar do reforço das respostas da CVP, alinhadas com a Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA) 2025-2030, registou-se uma quebra de 31% no número de beneficiários da resposta de alojamento. A instituição atribui esta diminuição à falta de soluções habitacionais acessíveis, que limita a rotatividade nas estruturas de acolhimento e dificulta a transição para a autonomização.
A CVP alerta para a necessidade urgente de medidas estruturais que garantam o acesso a habitação digna e reforcem os apoios sociais, permitindo que as respostas de acolhimento tenham um impacto real na reinserção social.
Movimento 'Banco de Memórias': um apelo à solidariedade
Para sensibilizar a sociedade e mobilizar recursos, a CVP lança a campanha 'Banco de Memórias', uma iniciativa que visa alertar para a realidade das pessoas em situação de sem-abrigo e angariar fundos para soluções concretas.
“O aumento dramático do número de pessoas sem teto é um alerta que não podemos ignorar. Por trás de cada estatística, há uma história de vida interrompida pela exclusão social. A Cruz Vermelha Portuguesa não assiste de braços cruzados: intensificamos o nosso apoio e apelamos à sociedade para se unir a nós nesta missão. A dignidade não pode ser um privilégio – é um direito fundamental”, afirma António Saraiva, Presidente Nacional da Cruz Vermelha Portuguesa.
A campanha inclui a instalação de bancos de jardim simbólicos em Santarém, Braga e Vila Nova de Gaia, convidando a sociedade a refletir sobre a exclusão social. Numa fase inicial, foram lançados spots de televisão e rádio anunciando a chegada de um banco onde cada euro depositado se multiplica – uma alegoria que reforça a ideia de que cada doação ajuda a ampliar as respostas da CVP e a restaurar vidas.
A campanha arranca hoje, no Dia Mundial da Justiça Social, e é um convite à mobilização da sociedade civil e do setor empresarial para apoiar esta causa.
Saiba mais sobre o movimento Banco de Memórias aqui.
As respostas da CVP: acolhimento e reinserção social
A Cruz Vermelha Portuguesa desenvolve respostas sociais em todo o país para apoiar pessoas em situação de vulnerabilidade. Entre as iniciativas estão:
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Apoio alimentar, alojamento e acompanhamento psicossocial, garantindo condições dignas e promovendo a inclusão social;
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Programas de habitação, como o Housing First, que asseguram alojamento permanente com suporte psicossocial contínuo;
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Equipas de Rua, que mantêm um contacto direto com a população sem teto, distribuindo alimentos, vestuário e prestando apoio especializado.
Estas respostas consolidam o compromisso da CVP no trabalho contra a exclusão social e no apoio às comunidades, reforçando o seu papel como um pilar essencial na resposta a este desafio crescente em Portugal.